quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A RAINHA E O JOVEM QUE SABIA VALORIZAR AS PESSOAS









COLECIONADOR DE FRAGMENTOS DE

HISTÓRIAS

As histórias que já foram escritas não me causam preocupação. Eu, Caetano Augusto, decidi me tornar um colecionador de fragmentos de histórias. A minha imaginação há de coletá-los e combiná-los harmonicamente, para que formem histórias atraentes e cativantes.Quanto mais histórias eu conseguir criar, mais rostos se iluminarão de alegria na dimensão dos personagens ignorados.

Eu já tenho quatro fragmentos:

1º) Uma bruxa cujos feitiços não funcionavam;
2º) Um sapateiro que não gostava dos sapatos que confeccionava;
3º) Um cozinheiro cujas receitas não agradavam ao paladar da rainha;
4º) Um rapaz que não valorizava o seu maior talento: levar alegria às pessoas.

Eu me pergunto se existe uma história que possa ser formada a partir das quatro peças desse quebra-cabeça... Quando eu tiver uma ligeira ideia de como a história será, começarei a registrá-la para que ela não se perca no labirinto de minhas distrações.

Sisi Marques


 
A RAINHA E O JOVEM QUE SABIA VALORIZAR AS PESSOAS


Há muitos e muitos anos, em uma terra distante, todos os habitantes do reino serviam à jovem e orgulhosa rainha. Por mais que seus súditos se esforçassem para satisfazer seus desejos, raramente conseguiam agradar-lhe.
O sapateiro, de tanto ouvi-la reclamar de seus sapatos, passou a acreditar que eles eram feios e de má qualidade. A bruxa, que perdera sua magia fazendo surgir lindos vestidos para a vaidosa rainha, sentia-se triste e deprimida. O cozinheiro, após receber o impacto de tantas críticas por parte de Sua Majestade, sentia-se frustrado e já pensava em abandonar a profissão. Vários outros exemplos poderiam ser citados porque a atitude soberba da rainha, que tanto a envaidecia, humilhava seus súditos e contribuía para que eles se sentissem desvalorizados.

Certo dia, ao tomar conhecimento da chegada de um rapaz ao seu reino, a rainha ordenou aos guardas que fossem buscá-lo imediatamente, porque ela desejava vê-lo. Orgulhosa como era, a rainha não confessaria nem a si mesma que sentira algo diferente quando os seus olhos tocaram os olhos do jovem. Procurando disfarçar a emoção que sentia, a rainha perguntou: “O que você sabe fazer?” Ele respondeu: “Nada em especial.” A rainha disse em tom enérgico: “Se deseja permanecer no meu reino, trate de encontrar um modo de se tornar útil.”

E o jovem tornou-se mais do que útil: tornou-se indispensável, porque sabia valorizar e cativar as pessoas. À bruxa, ele dizia: “Confie em si mesma, e sua magia acabará reflorindo.” Ao sapateiro, ele dizia: “Os sapatos que você confecciona são resistentes e duráveis... Você não deveria caprichar tanto nos sapatos da rainha... Faça-os belos e pouco resistentes para que se desgastem logo, e a rainha possa satisfazer a sua vaidade, substituindo-os com frequência.” Ao cozinheiro, ele dizia: “Quando você for servir à rainha, em vez de perguntar a ela se a refeição está do seu agrado, elogie o penteado ou o vestido que ela estiver usando...” E, assim, continuava o simpático rapaz, sempre encontrando algo gentil e animador para dizer.

A rainha, que já estava inclinada a se apaixonar pelo jovem, alegrou-se ao verificar que as reclamações diminuíram, e os elogios aumentaram desde a sua chegada. Quando ele falou em partir, ela lhe pediu que ficasse, alegando docemente que aquele reino não poderia permanecer sem um rei.


Sisi Marques
 

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