Era uma vez um contador de histórias que se orgulhava de narrar histórias longas e atraentes. Mas, com o passar dos anos, a sua memória perdeu a vivacidade e começou a decepcioná-lo. Embora a paixão pelas histórias continuasse intensa, ele perdia o fio da meada e se esquecia de mencionar as partes mais interessantes. Certo dia, ele pensou: “Chega de contar longas histórias!… O essencial pode ser dito em poucas linhas. A partir de hoje, só contarei histórias que caibam nas palmas das mãos.” E, desse dia em diante, ele passou a usar luvas. E, em cada par de luvas, havia uma belíssima história que cabia nas palmas das mãos.
sábado, 29 de março de 2014
POEMA DE CAETANO AUGUSTO
POEMA
DE CAETANO AUGUSTO
(Personagem de Sisi Marques)
Será
possível encontrar a paz e o silêncio
Em
meio à agitação e às distrações,
Que
impiedosamente nos cercam?!...
Embora
eu não seja humano,
Possuo
um coração amoroso
E
sofro com o impacto desse
Constante
bombardeio.
Eu
não menti quando disse
Que
não era feito de carne e osso.
Eu
sou feito de sonhos,
E,
em meu coração, reside apenas
O
desejo de continuar existindo.
sexta-feira, 21 de março de 2014
O JOVEM MERCADOR E A FILHA DO PIRATA
Ernesto era um mercador
muito próspero. Antes de suas viagens, ele abastecia o navio com tecidos,
perfumes, utensílios de cozinha e mantimentos que, segundo ele, eram
indispensáveis e atrairiam compradores ansiosos por obtê-los. Quando ele
retornava de suas viagens, ninguém mais se surpreendia ao verificar que, além
de ter vendido tudo o que levara, ele ainda retornava com uma longa lista de
itens, que os seus fregueses lhe encomendavam para quando ele retornasse àquela
região.
Certo dia, porém, o
navio de Ernesto foi atacado por piratas. Ernesto estava no convés, admirando a
serenidade das ondas, quando uma jovem, que parecia estar se afogando, gritou
por socorro. Ele se atirou no mar para salvá-la, mas logo compreendeu que havia
sido vítima de uma terrível emboscada. O navio inimigo aproximou-se, e ele não
teve tempo de reunir seus homens e comandar a defesa.
O navio foi roubado com
toda a mercadoria e os seus pertences, e ele e seus subordinados foram
abandonados em uma ilha deserta. Mas, pior do que ter sido despojado de quase
toda a sua fortuna, foi ter perdido o próprio coração: ele se apaixonou pela
jovem que o enganara.
Mas Ernesto não poderia
ter adivinhado que Luna, a filha do temível pirata, também havia entregado o
seu coração para ele, no momento em que ele se aproximou com a intenção de
salvá-la.
Os dois jovens
apaixonados perderam a paz que costumava embalar seus corações. E tudo fizeram para
que houvesse um reencontro... Luna desistiu de acompanhar o pai em suas viagens,
onde a mentira, a desonestidade e o roubo reinavam. Ela comprou um navio e
contratou uma tripulação bem diferente daquela que o seu pai se orgulhava tanto
em liderar. O único objetivo de Luna era descobrir o paradeiro de seu afeto.
Quanto a Ernesto, após
ter sido resgatado juntamente com sua tripulação, ele continuou a ser mercador,
mas a sua rota, em vez de ser aquela que lhe garantiria mais lucros, passou a
ser a mesma do pirata, pai de sua amada.
Luna, ao descobrir que
o navio de Ernesto perseguia o navio de seu pai, não teve dificuldade em
localizá-lo. Entretanto, ela não ousou se aproximar... Ela aguardava o momento
em que Ernesto, cansado da viagem, buscasse a terra firme. E, quando isso
aconteceu, ela pediu a um de seus empregados para segui-lo a fim de descobrir
onde ele havia se instalado.
De posse da informação
desejada, Luna soube esperar até que a oportunidade surgisse. Durante uma
festividade local, os habitantes da vila se reuniram na praça, e os dois jovens
amantes puderam se reencontrar.
Quem me contou esta
história disse que Ernesto e Luna vivem juntos até hoje. Eu acredito que isso
seja verdade, porque também já ouvi dizer que, no céu, existe um lugar
destinado ao reencontro de corações que mergulharam nas ondas do verdadeiro
amor.
Desenhos de Michel Sipliano
História de Sisi Marques
quarta-feira, 12 de março de 2014
O AVENTAL DE RECORDAÇÕES DE MELISSA
Melissa tornou-se extremamente infeliz no dia em
que se viu obrigada a trilhar uma estrada interminável. Quem afirmou que o
percurso seria eterno foi Jussara, uma jovem e bela feiticeira que se apaixonou
pelo príncipe Juliano, noivo de Melissa. Quando o príncipe negou-se a
desmanchar o noivado para casar-se com ela, a feiticeira disse: “Despeça-se de
sua amada. Para provar-lhe que não sou totalmente desprovida de coração, você
terá a oportunidade de vê-la pela última vez. Depois disso, colocarei entre vocês
uma estrada que aumentará dois passos a cada passo que vocês derem. Vocês nunca
mais se encontrarão; e, no final de um ano, Melissa o esquecerá completamente.”
O príncipe não perdeu tempo. A rainha era exímia
costureira, e ele pediu a ela que confeccionasse um avental que garantisse que
Melissa não se esqueceria dele. A rainha atendeu ao apelo do príncipe: no
avental havia uma estrada e, nas duas extremidades da estrada, havia um
castelo. Na janela de um dos castelos, uma jovem mantinha o olhar perdido na
estrada e, bordado no batente da janela, estava o nome de Melissa. Na janela do
outro castelo, um jovem também parecia percorrer a estrada com o olhar e, no
parapeito da janela, havia o nome de Juliano.
Embora a princesa Melissa tivesse chorado quando
o príncipe Juliano entregou-lhe o avental, as lágrimas não conseguiram remover
a esperança de seu coração. Durante todo aquele ano em que ambos percorreram a
estrada encantada, Melissa vestiu o avental e não se cansava de contemplar as
aplicações que resistiam ao tempo e às inúmeras lavagens.
Quando aquele ano, em que Melissa temia esquecer
Juliano, chegou ao final; contrariando a previsão da feiticeira Jussara, a
chama do amor de Melissa ainda brilhava intensamente. A longa e, aparentemente,
interminável estrada encurtou-se e abreviou a distância que havia entre eles.
Dias depois, Juliano, que não pensou em desistir
da caminhada nem por um segundo, reencontrou Melissa, e os dois puderam viver o
grande amor que transbordava de seus corações.
domingo, 9 de março de 2014
SONHOS COM A COR E O SABOR DA PAIXÃO
Carlos era um homem simples.
Enquanto os seus amigos se arrumavam para ir à praça e às festas locais, sempre
com a perspectiva de conversarem e encontrarem uma companhia feminina atraente,
ele preferia ficar em sua casa, cuidando de seu pequeno jardim.
Ele não saberia dizer por que
amava tanto aquelas flores. Ele desconhecia os seus nomes científicos; e
desprezava seus nomes populares, se eles não pudessem ser atribuídos a alguma
jovem. Ele dizia: “Toda a mulher deve
ter nome de flor. E toda a flor deve ter um nome feminino que a torne única em
meio a todas as outras flores de sua espécie.”
É verdade: todas as flores do
jardim de Carlos tinham um nome e, se tivessem sentimentos, teriam se
considerado muito especiais. Certo dia, porém, uma tristeza daninha visitou o
coração de Carlos, e ele, distraído, pôs-se a escutá-la. Ela dizia: “Homem
tolo! Qual é a razão de tudo isso?! Por que você perde tantas horas cuidando
desse insignificante jardim?!... Especiais!... O que há de especial nessas
flores?!... Elas representam apenas um desperdício de tempo e energia!... Se
você fosse rico, e tivesse um imenso jardim, e pudesse contratar um jardineiro
habilidoso para cuidar das flores, aí sim elas se tornariam exuberantes e
dignas de contemplação. Vá cuidar da sua vida, que está na mais completa
desordem, e solte os laços que o prenderam a essas flores!... Eu sei qual é o
seu problema: você tece sonhos e, em sua imaginação, cada flor é uma fada que
necessita de cuidados para que possa viver mais e ter a sua beleza preservada.
Homem tolo!... Homem tolo!... Homem tolo!...”
A tristeza partiu o coração de
Carlos. Pela primeira vez em sua vida, ele chorou de saudade. Não era uma
saudade comum: era uma saudade antecipada. Não se pode desistir do que se ama.
Ele realmente acreditava em fadas, e tinha a esperança de, um dia, apaixonar-se
por uma delas e ser convidado a viver em uma terra encantada, em meio a flores
gigantescas. As flores, naturalmente, não cresceriam. Seria ele quem reduziria
de tamanho para apreciar melhor a beleza e o perfume adocicado das flores.
Carlos era um sonhador, e passou
vários anos indo de um extremo a outro. Ora acalentava o seu sonho, e ora
pensava em matá-lo em pleno voo. Mas ele não tinha coragem de matar algo que
havia adquirido a cor e o sabor da paixão. O seu sonho era como um fruto do
qual ele se alimentava.
Infelizmente, quem me contou essa
história não soube me dizer como ela termina. Eu prefiro acreditar que Carlos tenha
conseguido se manter fiel ao seu sonho. Os sonhos descortinam portais e nos convidam
a visitar essas realidades mágicas. Sem eles, jamais conheceríamos o sabor da paixão.
sábado, 8 de março de 2014
O REI DO REINO VIZINHO
Era uma vez dois reinos
povoados por gigantes. Mas apenas um deles prosperava, e a prosperidade do
reino vizinho causava inveja e desprazer naqueles grandalhões que só desejavam brigar para demonstrarem o quanto
eram valentes. Para eles, tudo era motivo de discórdia e intriga até que eles
decidiram se unir para tentar melhorar as condições de vida. No dia e horário
marcados para a tão adiada reunião, um dos gigantes levantou-se para dizer:
– Precisamos descobrir
por que o reino vizinho jamais enfrentou a fome e a falta de moradia. O nosso
rei todos conhecem. Mas nenhum de nós jamais viu o rei deles, porque ele se
esconde até mesmo de seus súditos. Eu ouvi dizer que apenas seus conselheiros
têm permissão para entrar em seus aposentos. Ele deve ser muito feio. Talvez
seja um monstro que receie atemorizar seu próprio povo. Precisamos
desmascará-lo.
E os gigantes
briguentos, liderados pelo gigante falastrão, ameaçaram entrar em guerra com o
reino vizinho caso o seu rei não fosse visitá-los.
Por não desejarem a
guerra e por saberem que os gigantes briguentos não hesitariam em cumprir a
ameaça, os gigantes amantes da paz conduziram o seu rei à presença dos
grandalhões que ficaram boquiabertos porque, ao contrário do que eles
imaginavam, o rei do reino vizinho não era um monstro, não era horripilante,
não causaria temor ao seu povo... Ele era apenas um homenzinho. Com voz solene,
um dos conselheiros reais revelou:
– O nosso rei ainda era
um bebezinho quando decidimos adotá-lo. Ele se tornou órfão devido a uma
invasão conduzida por vocês, gigantes sem coração, ao reino dos homenzinhos. O
estardalhaço que vocês causaram colocou todos para correr, e o pobrezinho
escondeu-se com receio de que vocês o capturassem. Os pais dele provavelmente
tiveram que desistir de procurá-lo porque precisavam salvar a si próprios ou ao
restante da família. A verdade é que ele é muito inteligente e tem um enorme
coração. Vocês desejavam saber o segredo de nossa prosperidade, e aqui está
ele: o nosso rei nos governa com inteligência, sabedoria e mansidão.
Agora eu lhe pergunto:
os gigantes briguentos acreditaram no que o conselheiro real disse?... Você já
deve ter imaginado a resposta: infelizmente, não. E por não darem crédito a
suas palavras, começaram a zombar dele, e a debochar de todos, fazendo ressoar
estridentes gargalhadas. Riram, riram, até que se cansaram, viraram as costas e
voltaram à corrosiva rotina.
Os gigantes amantes da
paz ao vê-los desinteressarem-se da razão de sua prosperidade, retornaram ao
seu reino e tudo fizeram para garantir que o seu rei tivesse uma vida longa,
para que eles pudessem se beneficiar de sua sabedoria.
Sisi Marques
quinta-feira, 6 de março de 2014
ENCONTRO COM UM ANJO
Você acreditaria se eu
lhe dissesse que ontem um anjo estendeu a mão para evitar que eu caísse? Eu
estava voltando do trabalho, com os pés no chão e a cabeça nas nuvens, quando
uma senhora me disse: “Choveu, e as flores que caíram das árvores foram amontoadas
nessa esquina pela minha vizinha, e formaram uma camada limbosa e escorregadia.
Eu mesma já caí e estou com o tornozelo inchado. Contorne, atravesse a rua e
siga pela outra calçada.”
A atenciosa senhora
levantou a barra da calça, para que eu pudesse ver o estrago que o tombo havia
causado, e continuou caminhando ao meu lado. Depois de contornarmos as flores esmagadas
que, segundo ela, “pareciam ter formado uma camada de areia movediça que
colocava em risco até mesmo os carros que dobravam a esquina”, atravessamos a
rua e, após alguns passos, cruzamos a rua novamente e mudamos de calçada.
Paramos bem em frente ao sobrado onde ela disse que morava.
Como estou sempre com a
cabeça nas nuvens, embora eu passe constantemente por aquela rua, não costumo
prestar atenção às casas e, muito menos, aos moradores. A mulher era falante, e
eu tive que esperar até que ela terminasse para que eu pudesse agradecer e me
despedir.
Hoje, quando passei em
frente ao sobrado, vi um senhor beirando noventa anos, sentado em um banco
próximo ao jardim. Cumprimentei-o e perguntei se a senhora, que havia caído nas
flores amontoadas na esquina, era sua filha, e ele me disse: “Eu sou viúvo e
não tenho filhos. Mudei recentemente para cá e vivo aqui sozinho.”
Eu me desculpei pelo inexplicável
engano e atravessei a rua para esquivar-me novamente das flores que, segundo
aquele anjo, poderiam ter sido motivo de sofrimento e pesar.
Você teria alguma
história semelhante para contar? Eu admito que menti. Embora ontem tenha sido a
primeira vez que conversei com aquela senhora, ela realmente mora naquele
sobrado, e não havia nenhum senhor sentado próximo ao jardim. Mas o fato de eu
ter inventado o final desta história não muda a grande verdade: um anjo não
precisa ter asas e ser incorpóreo; ele pode ser de carne e osso... O que torna
as pessoas anjos ou demônios está relacionado com a quantidade de bondade e
empatia que elas conseguiram amealhar no coração.
Sisi Marques
quarta-feira, 5 de março de 2014
O SONHO DE CAETANO AUGUSTO PETRARCA DOS ANJOS
Hoje,
quando acordei, telefonei à Sisi Marques para contar o sonho que tive. Ela
ficou morrendo de inveja!!!... Eu sonhei que estava na biblioteca onde
Felizardo realiza suas apresentações. Quando ele terminou de contar a história,
foi ao meu encontro e convidou-me para almoçar em sua casa. Conheci Crisélia,
Afrânio e Anabel. Não demorou muito para que Cibele e Eliel aparecessem. E,
logo depois, chegou Tadeu, com o cabelo molhado e os pés sujos de areia. Cibele
sorriu ao vê-lo, e Eliel abaixou os olhos fingindo não ter reparado na troca de
olhares. Eu quase morri de susto quando Derlo surgiu do nada. Ele se
surpreendeu com a minha visita e convidou-me a acompanhá-lo ao Coração das
Fontes da Juventude. Eu fiquei honrado com o convite. Ele segurou no meu braço
e girou o seu anel de Guardião. Eu fechei os olhos no momento em que percebi
que estava prestes a ser transportado para outra dimensão. Quando abri os
olhos, pude contemplar uma jovem de beleza estonteante: era Lorena. Cibele
também é lindíssima, mas eu mal olhei para ela, porque receei desafiar aqueles
dois pares de olhos que não se cansavam de acariciá-la. Bem, mas voltando ao
Coração das Fontes, eu nadei na piscina que Lorena e Cibele construíram para
Tadeu. E Derlo instruiu um dos dragões a conduzir-me em seu voo, para que eu
pudesse conhecer aquele lugar paradisíaco. Quando o dragão me trouxe de volta
em segurança, uma surpresa ainda mais sedutora me aguardava: Lorena segurava um
dragãozinho de cristal amarelo para me ofertar. Ele continha a água da Fonte
Mais Pura, e eu não pensei duas vezes: ingeri o líquido sem deixar uma gota
sequer naquele gracioso frasco. Eu ainda não sei se a água da Fonte da
Juventude surtirá efeito, porque, afinal de contas, toda essa aventura não
passou de um sonho. Derlo convidou-me a permanecer no Coração das Fontes, mas
eu tive que declinar, porque o meu coração está nesta dimensão.
Sisi Marques
REALIDADE MÁGICA
Eu,
Caetano Augusto Petrarca dos Anjos, contrariando a minha resolução de não
contar longas histórias, hoje apresentarei um esboço da história favorita de
Sisi Marques: Realidade Mágica. O narrador da história chama-se Felizardo e,
como eu, é um contador de histórias. Ele se casou com Crisélia, irmã de Eliel.
Crisélia e Eliel são elfos. Eliel desistiu do amor de Anabel para viver ao lado
de Cibele. Embora Cibele ame Eliel perdidamente, continua ligada à amizade de
Tadeu, o rapaz que sua mãe, a bruxa Rovena, raptou quando ainda era criança.
Tadeu e Cibele beberam a água da Fonte Mais Pura, que Lorena, Guardiã do
Coração das Fontes da Juventude, lhes ofertou. Tadeu assumiu o posto de
Guardião ao lado de Lorena, mas abandonou o Coração das Fontes quando pensou ter
perdido Cibele para Florêncio, um bruxo da dimensão de Cibele. Felizmente, o
gênio Derlo a ajudou a retornar para o amor de Eliel. Enquanto Tadeu mantém
acesa a esperança de um dia poder viver ao lado de Cibele, Eliel guarda o
receio de que Cibele venha a preferir o amor de Tadeu.
Sisi Marques
domingo, 2 de março de 2014
O AGRICULTOR QUE NÃO SABIA ESPERAR
Era uma vez um agricultor que reclamava de todas as sementes que
comprava. Quando ele entrava no único armazém que existia naquele vilarejo, o
dono do comércio dizia: “Perdeu a viagem, porque as sementes acabaram.”
Mas José farejava a mentira e não arredava o pé enquanto não
colocava o saco de sementes nas costas. Na semana seguinte, lá estava ele de
volta, reclamando que as sementes que levara estavam estragadas.
Cansado de ouvir as reclamações e, principalmente, de arcar com
o prejuízo, certo dia, o dono do armazém pediu ao seu empregado que seguisse
José para verificar por que, nas mãos dele, as sementes acabavam se tornando
impróprias ao cultivo.
A resposta não se fez esperar. O empregado ficou observando e
passou a noite toda acordado. Não havia nada de errado com o modo que José
plantava as sementes. O problema surgia no dia seguinte quando ele começava a
desenterrá-las para verificar se já haviam começado a germinar.
Você me dirá que o agricultor José nunca existiu. É verdade:
esta é uma história inventada. Apesar disso, há ocasiões em que eu me
identifico com ele. Nem sempre confio no tempo, nem sempre consigo esperar! Eu
planto a semente e, daqui a cinco minutos, a desenterro para verificar se houve
alguma modificação. O desassossego não é pressa, é falta de fé na ação do
tempo. O que eu quero, embora hoje tenha suas raízes na terra invisível das
possibilidades, futuramente será uma árvore frondosa, carregada de realizações.
Mas, se eu desistir antes por não saber esperar, as possibilidades serão
desprezadas e apodrecerão na terra improdutiva do fracasso.
O PRÍNCIPE E O MONSTRINHO
Era
uma vez um príncipe que passava longas horas em seu laboratório instalado na
torre do castelo, criando monstros. Como o rei não aprovava esse seu
passatempo, e tudo fazia para que material algum chegasse em suas mãos, o
príncipe via-se obrigado a criar e recriar sempre o mesmo monstro. Para isso,
colocava-o a todo instante em sua engenhosa máquina cilíndrica de reciclagem de
monstros.
O
príncipe tanto reciclou o pobre monstrinho que acabou dotando-o de
personalidade; e o monstrinho, reagindo, não quis mais submeter-se àquelas
constantes transformações.
O
príncipe teve que pensar em outra coisa que pudesse servir para suas
experiências. E, assim, foi ao quarto de sua irmã e apanhou a boneca de pano
maior que encontrou. O monstrinho começou a caçoar dele, dizendo que ele
começara a brincar com bonecas.
Como
o príncipe não fez caso de suas provocações, o monstrinho zangou-se; e, para vingar-se do seu criador, empurrou-o para a máquina de reciclagem, onde já
estava a boneca.
Felizmente
quando o monstrinho, arrependido, abriu a porta da máquina de reciclagem, o
príncipe estava bem. A boneca, contudo, havia desaparecido, e suas roupas
tinham sido transferidas para o príncipe.
Sentindo-se
ridículo naqueles trajes femininos, o príncipe, irritado, começou a correr
atrás do monstrinho; e, para sua desgraça, o rei entrou no laboratório.
Constrangido,
o príncipe tentou explicar; mas o rei, envergonhado, ordenou aos guardas que o
trancafiassem até que aprendesse a se comportar como um príncipe.
Entretanto,
o príncipe detestava a ociosidade, e conseguiu convencer os guardas a
trazer-lhe material para que pudesse se ocupar. Quando o rei descobriu, mandou
prender os guardas, e condenou-os à morte.
Sentindo-se
responsável pela desventura dos leais servidores, o príncipe pediu para ser
levado à presença do rei.
O
rei o recebeu, e o príncipe disse:
–
Não é justo que aqueles homens paguem por um crime que eu cometi. Se alguém tem
que morrer, esse alguém sou eu. Depois de libertá-los, poderá fazer comigo o
que quiser.
Orgulhoso
pela coragem e nobreza de caráter que o príncipe revelara, o rei o perdoou, e
perdoou também os guardas; mas o fez prometer que desativaria o seu
laboratório.
O
príncipe pediu ao rei que o deixasse fazer uma última reciclagem; e, assim,
transformou o monstrinho em um papagaio. O rei gostou do esperto bichinho, e
nunca mais se aborreceu com o príncipe.
F I M
sábado, 1 de março de 2014
PÉS GRANDES ESTAVAM NA MODA
Era uma vez uma jovem e bela princesa, que vivia se escondendo apenas porque receava que alguém pudesse notar os seus pés grandes.
Um dia, um jovem príncipe apaixonou-se por ela. Mas a princesa continuava insegura, temendo que ele reparasse em seus pés quando fosse tirá-la para dançar.
O príncipe, convencido de que a princesa não o amava, foi procurar o rei para dizer-lhe que pretendia afastar-se. O rei e pai da princesa, por sua vez, explicou-lhe o motivo que levava a princesa a evitá-lo.
Satisfeito ao descobrir que o problema era excesso de pés e não falta de amor, o príncipe sugeriu ao rei que declarasse que pés grandes estavam na moda.
O rei, que achou ótima a ideia do príncipe, começou a se perguntar por que ele mesmo ainda não havia pensado nisso.
A verdade é que nem bem uma semana se passara após o rei ter decretado que pés grandes estavam na moda, e todas as jovens e senhoras do reino já estavam calçando sapatos bem maiores do que os seus pés, e preenchendo as sobras com algodão.
A princesa afortunada, que já tinha os pés grandes, continuou calçando o mesmo número que costumava usar, e nunca mais voltou a se esconder com vergonha de seus pés.
UMA HISTÓRIA COMPRIDA DEMAIS
Era uma vez um rei preguiçoso.
Ele não gostava de ler e dizia
Que todas as histórias que ele lia
Eram compridas demais.
Ele não gostava de ler e dizia
Que todas as histórias que ele lia
Eram compridas demais.
Esse rei também não gostava
De ouvir histórias e dizia
Que todas as histórias que ele ouvia
Eram compridas demais.
De ouvir histórias e dizia
Que todas as histórias que ele ouvia
Eram compridas demais.
Certo dia, esse mesmo rei,
Perseguindo um belíssimo animal,
Afastou-se do caminho conhecido,
E se perdeu na floresta.
Perseguindo um belíssimo animal,
Afastou-se do caminho conhecido,
E se perdeu na floresta.
Em seu reino, ele não era muito querido,
E seus súditos, percebendo sua ausência,
Desejaram que ele continuasse,
Eternamente, perdido por lá.
E seus súditos, percebendo sua ausência,
Desejaram que ele continuasse,
Eternamente, perdido por lá.
O rei cansado e frustrado
Por ter deixado o animal escapar,
Adormeceu na floresta, recostado
Ao tronco de uma árvore estranha.
Por ter deixado o animal escapar,
Adormeceu na floresta, recostado
Ao tronco de uma árvore estranha.
Para o rei, a árvore desconhecida
Era como as histórias que ele
Não gostava de ler e ouvir:
Ela era comprida demais.
Era como as histórias que ele
Não gostava de ler e ouvir:
Ela era comprida demais.
E, como esta história continua,
Ninguém jamais saberá porque
Ela acabou caindo no esquecimento:
Ela era comprida demais.
Ninguém jamais saberá porque
Ela acabou caindo no esquecimento:
Ela era comprida demais.
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