Otávio passava horas
escrevendo... Horas que pareciam minutos... As suas histórias tornaram-se o
centro de sua vida. Ele escrevia porque amava o voo que sua imaginação lhe
proporcionava. Se ele pudesse, passaria o dia todo escrevendo. Mas não se vive
de sonhos. Talvez, ele não tivesse talento, porque o seu sustento vinha de
outro trabalho que ele precisava realizar.
Certo dia, quando ele retornou
exausto do trabalho, ele se despiu do cansaço quando ligou o seu computador e
começou a escrever. Mas ficou intrigado ao verificar que havia um arquivo que
ele não se lembrava de ter escrito: “Nosso encontro ao anoitecer”. Curioso,
ele abriu o arquivo, e a mensagem dizia:
“Otávio, não se surpreenda com o
nosso contato; ele era inevitável. Compartilhamos tantas emoções e, apesar
disso, não nos conhecemos como deveríamos. Você ama os seus sonhos, e nós
amamos você. Esta noite, visitaremos o seu sono e o conduziremos aos lugares,
cuja existência a sua imaginação conseguiu perceber. Não tema; somos seus
amigos e, como eu já disse, amamos você.”
O primeiro pensamento que veio à
mente de Otávio, após ter lido o arquivo, foi: “Enlouqueci de vez!!!...”
O amigo, que me contou a
história, conhecia Otávio. Segundo ele, a partir daquela noite, Otávio nunca
mais foi o mesmo. Ele passou a preferir a fantasia à realidade, e todos
pensavam que ele havia enlouquecido.
Mas Otávio, após o sonho que
tivera com os seus personagens, descobriu que a lucidez residia na fantasia, e
que a criatividade também repousava no desejo que o coração tem de enxergar
além dos muros que esta realidade constrói: as aparências, os conceitos preestabelecidos,
os pensamentos massificados, o humor irônico e deteriorado, as certezas temerosas
e inconsistentes...
E Otávio conseguiu desafiar o
medo insano e a louca mentira de que não adiantaria dar asas ao coração, porque
não havia nada além daqueles limites cruéis que tolhem a liberdade e matam o
prazer de viver.
A liberdade infinita que o
coração de Otávio conseguiu alcançar tornou-se incompreensível e inadmissível
em um mundo que prefere jogar um manto negro sobre a realidade, em vez de
apreciá-la em sua pureza.
Otávio, se me ouvisse agora,
diria que estou dizendo asneiras: de que adianta defender a realidade e acusar
o mundo?!... O mundo é a nossa casa, revestido com os espelhos da realidade,
que refletem o que o homem faz deste mundo. Esses espelhos só mostrarão algo
melhor quando o homem exibir seu coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário