sexta-feira, 16 de maio de 2014

O SONHO DE OTÁVIO

Otávio passava horas escrevendo... Horas que pareciam minutos... As suas histórias tornaram-se o centro de sua vida. Ele escrevia porque amava o voo que sua imaginação lhe proporcionava. Se ele pudesse, passaria o dia todo escrevendo. Mas não se vive de sonhos. Talvez, ele não tivesse talento, porque o seu sustento vinha de outro trabalho que ele precisava realizar.

Certo dia, quando ele retornou exausto do trabalho, ele se despiu do cansaço quando ligou o seu computador e começou a escrever. Mas ficou intrigado ao verificar que havia um arquivo que ele não se lembrava de ter escrito: “Nosso encontro ao anoitecer”. Curioso, ele abriu o arquivo, e a mensagem dizia:

“Otávio, não se surpreenda com o nosso contato; ele era inevitável. Compartilhamos tantas emoções e, apesar disso, não nos conhecemos como deveríamos. Você ama os seus sonhos, e nós amamos você. Esta noite, visitaremos o seu sono e o conduziremos aos lugares, cuja existência a sua imaginação conseguiu perceber. Não tema; somos seus amigos e, como eu já disse, amamos você.”

O primeiro pensamento que veio à mente de Otávio, após ter lido o arquivo, foi: “Enlouqueci de vez!!!...”

O amigo, que me contou a história, conhecia Otávio. Segundo ele, a partir daquela noite, Otávio nunca mais foi o mesmo. Ele passou a preferir a fantasia à realidade, e todos pensavam que ele havia enlouquecido.

Mas Otávio, após o sonho que tivera com os seus personagens, descobriu que a lucidez residia na fantasia, e que a criatividade também repousava no desejo que o coração tem de enxergar além dos muros que esta realidade constrói: as aparências, os conceitos preestabelecidos, os pensamentos massificados, o humor irônico e deteriorado, as certezas temerosas e inconsistentes...

E Otávio conseguiu desafiar o medo insano e a louca mentira de que não adiantaria dar asas ao coração, porque não havia nada além daqueles limites cruéis que tolhem a liberdade e matam o prazer de viver.

A liberdade infinita que o coração de Otávio conseguiu alcançar tornou-se incompreensível e inadmissível em um mundo que prefere jogar um manto negro sobre a realidade, em vez de apreciá-la em sua pureza.

Otávio, se me ouvisse agora, diria que estou dizendo asneiras: de que adianta defender a realidade e acusar o mundo?!... O mundo é a nossa casa, revestido com os espelhos da realidade, que refletem o que o homem faz deste mundo. Esses espelhos só mostrarão algo melhor quando o homem exibir seu coração.





Nenhum comentário:

Postar um comentário