sábado, 20 de setembro de 2014

TROCA DE CORAÇÕES



A princesa Lilian, acariciando o gato que se afeiçoara a ela, murmurou: “Felício é um príncipe sem coração!... Ele, que parecia tão apaixonado, inexplicavelmente passou a ignorar-me!... Você, gatinho, é o único que me compreende!... Ele passa horas sentado em seu trono, coberto com aquele manto de indiferença e arrogância, cercado por aqueles gatos que parecem adorá-lo!... Só eu que me preocupo!... Ninguém mais parece notar o quanto Felício mudou!...”

Ao contrário do que a princesa imaginava, o rei Crudêncio havia notado a mudança de comportamento do filho e era o único responsável por tal transformação. Tudo aconteceu porque o rei era muito cruel e não aprovava a conduta gentil de seu filho. Certo dia, extremamente aborrecido, enquanto acariciava a cabeça de seu gato travesso e arisco, ele desejou que o gato fosse tão dócil quanto o príncipe, e que o príncipe fosse tão ardiloso quanto o gato. A fada protetora do castelo ouviu o desejo do rei e decidiu realizá-lo.

O próprio rei surpreendeu-se quando o seu filho, de um momento para o outro, começou a apresentar um comportamento estranho: além de tornar-se frio e egoísta, o príncipe adquiriu verdadeira paixão por tudo o que se relacionava a felinos; e, inclusive, reformou a frente do castelo para que ela adquirisse o formato da cabeça de um gato.

Enquanto a fada esperava, esperava e esperava que o rei se arrependesse de ter desejado algo tão cruel, a princesa chorava e passava longas horas lamentando a transformação que o seu amado sofrera. O seu único ouvinte era o gatinho carinhoso e tristonho, que abrigava em seu peito o coração apaixonado do desditoso príncipe.

A fada acabou desistindo de esperar pelo arrependimento do rei e, compadecendo-se do sofrimento da princesa, devolveu ao jovem príncipe o seu nobre coração. Os dois se casaram e viveram muito felizes.

A fada, entretanto, não foi tão benevolente com o rei: durante três longos anos, o coração de um cavalo, cansado de tanto trabalhar sem nunca ter tido o mínimo reconhecimento, bateu em seu peito. Quando o rei morreu, o cavalo que recebera o seu coração, continuou vivendo e ainda ostentava sua índole orgulhosa e indomável.

Rui Petrarca dos Anjos
(Personagem de Sisi Marques)