Há muitos e muitos anos
um rei prendeu um cozinheiro no porão do castelo para cuidar de suas aves. No
mesmo dia, um poeta também foi trazido à presença do rei para ouvir sua
sentença: “A partir de hoje, você não mais escreverá versos. No lugar da pena,
você segurará a colher de pau e mexerá os alimentos dentro das panelas. E,
quando não estiver cozinhando, estará lavando e cortando os legumes, ou, ainda,
limpando a cozinha. Sempre haverá o que fazer, e eu o proíbo de entregar-se ao
devaneio.”
Uma semana depois, um
jovem estudante foi preso e ficou alarmado quando ouviu o rei dizer: “A partir
de hoje, você ajudará na limpeza e na conservação do castelo.” O estudante
ousou exclamar: “Eu não posso abandonar os estudos!... Eu quero me formar e ter
uma profissão!...” O rei, olhando-o com frieza, afirmou: “Os seus instrumentos
de trabalho serão a vassoura e o escovão. Esqueça os livros e comece a trabalhar
agora. A propósito, eu o proíbo de entrar na biblioteca. Ela será o único lugar
que você não deverá limpar.” O estudante ainda aventurou-se a dizer: “Vossa
Majestade não compreende!... Eu sempre me dediquei aos estudos e sou muito vagaroso
quando se trata de realizar trabalhos pesados.” O rei disse apenas: “Problema
seu!”
Uma semana após a
chegada do estudante, enquanto ele varria a sala de jantar, ele se surpreendeu
ao ver o seu amigo poeta entrando na sala, com uma tigela nas mãos. Após os
dois se cumprimentarem, o estudante perguntou: “O que você faz aqui?!... Não me
diga que aprendeu a cozinhar?!...” O poeta exclamou tristemente: “Eu jamais
aprenderei a cozinhar!... Eu passo horas tentando preparar receitas que outros
cozinheiros fazem em minutos!... É um desperdício de tempo e energia, e o resultado
é sempre um desastre!... Eu não sei o que fazer!... Eu queria melhorar, mas não
consigo e acabo sempre sendo alvo de riso. Isso parece um castigo!... A
inspiração me visita, e eu não posso escrever!... O pior de tudo é que o rei parece
sentir um prazer mórbido toda a vez que ele visita a cozinha e me surpreende em
uma situação embaraçosa. Ele não se aborrece. Muito pelo contrário, ele parece
se divertir com o meu constrangimento.”
Minutos depois, era o poeta
quem escutava o estudante dizer: “Comigo
acontece a mesma coisa!... Eu fico preocupado e ansioso porque estou sempre
atrasado com a limpeza, e o rei se compraz com o meu sofrimento. Além disso, eu
sinto falta dos livros. Eu daria tudo para ter acesso à biblioteca do castelo,
e é exatamente lá o único lugar que eu não posso limpar!... Eu tenho a
impressão de estar sendo punido!... É evidente que você também está aqui contra
a sua vontade!...”
O poeta respondeu: “Sim,
e o cozinheiro da taverna também. Você se lembra?!... Embora ele adorasse comer
aves, ele tinha alergia a penas. Naquele dia em que você estava treinando com o
seu arco e abateu aquele falcão, ele o cozinhou, mas fui eu quem tive que
arrancar as penas!...”
O poeta ficou surpreso
quando ouviu o estudante exclamar: “Está explicado: aí está o motivo!... Enquanto
o cozinheiro estava temperando o falcão, ele disse que poderíamos nos sentir
honrados porque teríamos a oportunidade de saborear um dos falcões reais. Estamos
sendo punidos pela morte do falcão!... Jamais conseguiremos escapar!... Eu ouvi
dizer que o ódio do rei é implacável!... Ele ama a vingança e nunca perdoa!”
O poeta, procurando se
desvencilhar do nervosismo, aconselhou: “Acalme-se!... Se nos desesperarmos,
não encontraremos a solução. Tanto quanto você e o cozinheiro, eu quero a minha
vida de volta. Precisamos de aliados. Se agradarmos aos que estão ao nosso
redor, talvez, eles nos ajudem a fugir. Eu o aconselho a ser gentil e prestar
os favores que estiverem ao seu alcance.”
O poeta, discretamente,
tornou-se o “cupido” do castelo. Até mesmo o chefe da guarda pediu-lhe que
recitasse, em seu nome, versos embebidos de paixão para a mulher que ele amava.
O estudante, por sua vez, não perdia a oportunidade de esclarecer as dúvidas
das crianças e dos jovens. Ele até mesmo passou a realizar seus deveres de
casa. E todos sabiam por que tanto o poeta quanto o estudante não mediam
esforços em ajudá-los: eles desejavam viver a vida em vez de sucumbirem ao peso
da vingança do rei.
Felizmente o plano deu
certo: eles conquistaram amigos que libertaram o cozinheiro e os ajudaram a
fugir. Quando o rei descobriu que os seus planos de vingança haviam sido
interrompidos, ordenou que os fugitivos fossem recapturados. Mas, contrariando
discretamente as ordens reais, ninguém se empenhou na busca, e o cozinheiro, o
poeta e o estudante viveram felizes para sempre.
Sisi, adoro as suas historias!!! Essa esta incrivel!!!
ResponderExcluirBjs e um dia de paz!!!
Obrigada pelo carinho la no blog!!!
Obrigada, Lucia, por suas palavras de incentivo!!!...
ExcluirEu também admiro muito o seu trabalho e a sua dedicação aos Blogs!!!...
Beijos