A biblioteca era o lugar favorito de Lidiane. Naquele
castelo, ninguém ligava para os livros, e era exatamente ali que a inspiração
costumava visitar o coração da princesa.
Ela estava distraída, escrevendo um poema, quando um jovem
entrou e perguntou timidamente: "Atrapalho?...”. Milton se sentiu ainda mais embaraçado ao se certificar
de que sua presença era indesejável... A princesa preferiu ignorá-lo... Ela nem
mesmo se deu ao trabalho de levantar o olhar e responder à simples pergunta...
Ela era bela e assemelhava-se a uma estrela inatingível.
Ele se sentiu o mais infeliz dos homens quando Lidiane parou
de escrever e, após encará-lo com os olhos encharcados de indiferença,
perguntou: “Por que está aqui?!... Se deseja ler, escolha um livro e leia!...
Só não fique aí parado me observando, porque o seu olhar me incomoda.”.
Milton balbuciou: “Desculpe-me, Alteza... Eu não tive a
intenção de...”. Ele não pôde completar a frase, porque Lidiane foi logo
dizendo: “Cantores!... O meu pai estava certo: Teria sido melhor que tivessem
nos enviado um músico!... Você deve ser o cantor que não deveria ter
chegado!... Estou enganada?!...”.
Milton desculpou-se por estar ali e já se preparava para sair
quando Lidiane, abrandando a voz, disse: “Perdoe-me... Eu não fui sempre assim...
Eu me tornei o que sou tentando ganhar espaço para fazer o que mais gosto:
escrever... Embora eu saiba que ninguém jamais lerá o que escrevo, eu tenho a
necessidade de expressar os meus sentimentos em palavras.”.
Milton surpreendeu a princesa quando se atreveu a perguntar:
“Posso ler o poema?...”. Revelando entusiasmo, ela respondeu: “Eu ficaria muito
feliz se você o lesse!... Na verdade, esta não é a primeira vez que o
escrevo... Ele é o meu poema favorito!...”.
Milton segurou a folha que Lidiane entregou a ele e leu o
poema de amor, tentando esconder a emoção que sentia. Ela ficou muito feliz
quando ele comentou: “É lindo!... Embora eu não saiba tocar nenhum instrumento,
sou eu que componho o meu repertório. Eu tenho a certeza de que conseguiria unir
o seu poema a uma melodia... Se Vossa Alteza consentisse, naturalmente.”.
À noite, depois do jantar, o rei se surpreendeu quando a
princesa, em vez de se levantar e recolher-se como costumava fazer, acompanhou-o
até o salão de música para assistir à apresentação do cantor recém-chegado. Ela
ansiava ouvir o seu poema na voz daquele homem que conquistara o seu coração.
Na manhã seguinte, porém, quando os dois se encontraram na
biblioteca, foi a decepção que levou Lidiane a afirmar magoada: “Você mentiu
para mim!... As letras das músicas que você cantou não tinham nada a ver com o
poema que escrevi!...”. Milton respondeu: “Eu não menti, Alteza!... O problema
é que ando sem inspiração ultimamente...”.
Durante uma semana, todas as manhãs, a cena se repetia...
Milton confessava não ter tido inspiração para vestir o poema com a melodia, e
a princesa se entristecia. Mas houve uma noite em que ele cantou uma canção que
tocou o coração de Lidiane de um modo único e inesperado...
Lidiane tentou fugir ao olhar insistente de Milton, mas não
conseguiu... E, naquele momento em que ele sentiu que a princesa também o amava, ele
encontrou inspiração para cantar a canção que ela tanto desejava ouvir.
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