quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O REI, O JARDINEIRO E A FADA


Era uma vez um rei que havia se cansado de todas as suas riquezas. Ele invejava o jardineiro, que cuidava de seus suntuosos jardins!... Ele pensava: “Nenhuma dessas rosas é dele!... E, no entanto, ele as ama!... Eu nunca senti amor por nada e nem por ninguém!... O meu coração está vazio!... Ele sempre esteve vazio!... Por que o amor se esconde de mim, que sou o rei, e derrama suas bênçãos sobre aquele jovem que nada possui?!...”.

Certo dia, o rei ordenou ao jardineiro que destruísse um canteiro de rosas, e ele respondeu: “Perdoe-me, Majestade, mas eu não compreendo por que devo fazer algo tão terrível!... Eu prefiro partir a causar tamanha desventura à fada que é responsável pela preservação daquele canteiro!...”.

O rei ordenou: “Traga essa fada à minha presença!... Faça melhor do que isso: Se é mesmo verdade que existe uma fada para cada canteiro, eu ordeno que você reúna. amanhã, pela manhã, em frente ao castelo, todas as fadas que habitam os meus jardins... A mais bela de todas será a minha rainha.”.

O jardineiro aventurou-se a dizer: “Isso é impossível, Majestade, porque a mais bela de todas as fadas casou-se com um elfo e jurou a ele amor eterno.”.

O rei gritou: “Amor!... Amor!... O amor não existe!... E, mesmo que existisse, eu o expulsaria do meu reino, porque eu nunca vi o rosto dele!... Retire-se antes que eu o expulse também!... E faça exatamente o que ordenei.”.

Na manhã seguinte, apenas a fada mais bela de todas esperava o rei em frente ao castelo. Ao seu lado, estava o jardineiro, que ficou sem ação quando ouviu o rei perguntar: “Onde está o elfo que você disse que ousou se casar com a minha futura rainha?!... Encontre-o e diga a ele que ela é minha, e o casamento está desfeito!...”.

Recobrando-se do choque que recebera da arrogância do rei, o jardineiro respondeu: “O casamento entre a fada e o elfo jamais poderá ser desfeito, porque eles juraram amor eterno um ao outro. A fada e eu viemos pedir-lhe que abandone a ideia de se casar com uma das fadas.”.

O rei advertiu: “Se não se calar, pagará muito caro por sua insolência!... Faça exatamente o que ordenei e não retorne enquanto não tiver convencido o elfo a desistir do amor da fada.”.

Foi a fada mais bela de todas quem disse: “O seu jardineiro não precisa sair em busca do elfo, porque é ele o elfo a quem jurei amor eterno. Ele se disfarçou de jardineiro apenas para proteger as flores dos seus jardins. Será você quem pagará caro por sua arrogância e insolência!... Partiremos e levaremos conosco todas as flores e as fadas que cuidam das flores!... E os seus jardins se tornarão tão improdutivos quanto o seu coração!...”.

O coração empedernido do rei não se abalou quando as flores se desprenderam dos canteiros e ganharam o céu, protegidas pelas fadas e pelos elfos, que também abandonaram os jardins.

O amor jamais fez morada no coração do rei... E, em seus jardins, a partir daquele dia, nem mesmo ervas daninhas nasceram!...



quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O DESENHISTA E O GUERREIRO


Finalmente terminei o desenho! Não ficou perfeito, mas ficou melhor do que eu esperava!... Mereço um descanso e uma xícara de café!...

Como isso é possível?!... Eu me ausentei por alguns minutos apenas e, quando retorno, não encontro o desenho!... Eu não me lembro de tê-lo guardado!...

“É essa folha em branco que você está procurando?... Eu a encontrei no chão... Por que está me olhando desse jeito?!... Eu não pretendo feri-lo com a minha espada. Eu só gostaria que você me dissesse por que estou aqui. Eu sou capaz de lutar até a morte... É só você me dizer onde e quando será a batalha.”.

Eu já sei o que está acontecendo: eu fui dormir e estou sonhando!... Amanhã, quando eu acordar, a folha com o desenho estará exatamente onde a deixei...

“Onde está a sua espada?... Não me diga que não tem uma!... Esses desenhos, foi você quem fez?... São bonitos!... Não servem para nada, mas são bonitos!... Quem é a bela jovem?!...”.

Eu não sei... Vi a foto em uma revista e resolvi dedicar a ela um pouco do meu tempo. Eu uso o meu lápis com a mesma maestria que você maneja a sua espada. É uma pena que você não seja real!... Você é tudo o que eu gostaria de ser: belo, forte e destemido. Os seus olhos, embora se assemelhem a um mar revolto, trariam paz ao coração de uma mulher que estivesse buscando o amor verdadeiro.  Eu não desperto o interesse de ninguém, porque só travo batalhas com problemas que se assemelham àquelas criaturas mágicas que, quanto mais cabeças são cortadas, mais cabeças aparecem!... Neste momento, eu trocaria o sonho pela realidade!... Deixe-me ser você!... Eu não tenho medo de reduzir o meu mundo a uma folha de papel!... Eu desejo habitar aquela folha no seu lugar.

“Você sabe que está me propondo uma troca que não poderá ser realizada, porque cada um tem o seu destino, e ele é feito sob medida. Eu considero esta espada uma parte do meu corpo. Esse objeto que você usa para desenhar não tem valor nenhum para mim. Mas você não viveria sem ele. Embora nossas habilidades sejam diferentes, elas têm a mesma função: elas permitem a descoberta do nosso potencial. Seja um guerreiro sem espada e obtenha a vitória sobre as suas limitações e os seus medos.”.

Era como eu suspeitava: tudo não passou de um sonho!... Aqui estou eu: deitado na minha cama!... E o guerreiro que desenhei está lá: inerte naquela folha. Mas uma coisa é certa: ele sou eu, e a valentia que ele tem é a coragem que transmiti a ele no momento de desenhá-lo.