Leonel, o mágico mais
famoso do mundo, escondia um segredo, e seu rival Rogério estava disposto a descobrir
qual era. Enquanto ensaiava seus números de mágica, Rogério repetia
ironicamente: “Passarinhos que saem da cartola do grande mágico Leonel, atendam
ao meu chamado: venham me revelar o segredo daquele impostor. Mágico
simplesmente, ele não pode ser!... Ele deve ser algum mago banido das
trevas!... Assim que eu descobrir o segredo daquele farsante, o mágico mais
famoso do mundo serei eu: Rogério, o magnífico!...”.
Sem suspeitar das
intenções de Rogério, Leonel o tratava como amigo e o recebia em sua casa. A única
preocupação de Leonel era conservar o seu tesouro bem distante da visão atenta
e perspicaz do curioso amigo. O tesouro de Leonel era uma caixinha de madeira
que sua mãe lhe entregara antes de falecer. Sempre que ele se lembrava da
caixinha, ele parecia ouvir sua mãe repetindo as palavras: “Leonel, fique
atento!... Quem muito o rodeia, amigo não é!... Não passa de pássaro
agourento!... Guarde esta caixa e só a abra no dia em que desejar uma mudança
em seu destino.”.
Mudança!... Quantos
mágicos não dariam tudo para estar em seu lugar?!... Uma posição de destaque
que, para ele, nada significava!... O
que o seu coração desejava, a sua mente não conseguia compreender... Era como
se coração e mente não falassem o mesmo idioma. Ele desejava sim a mudança, mas
para algo que, por mais que ele se esforçasse, não conseguiria explicar.
Dias e meses se
passaram, e a obstinação de Rogério persistia. Certo dia, ele apostou tudo em
uma única jogada quando mentiu a Leonel: “O que vou lhe dizer é muito grave e
deverá permanecer em segredo: Não sou um mágico. Sou um bruxo. Eu sei que você
também é um bruxo... Juntos, seremos invencíveis... Mostre-me de onde vem o seu
poder, e eu lhe mostrarei a fonte da minha magia.”.
Poder e magia!...
Leonel sorriu enquanto colocava mais vinho na taça de Rogério. Imaginou que o
amigo estivesse tão bêbado quanto ele, e as últimas palavras de Rogério
começaram a reverberar em sua imaginação: “ ... a fonte da minha magia, da
minha magia, da minha magia...”. Embriagado, Leonel murmurou: “Mãe, eu desejo
uma mudança na minha vida!... Mostre-me qual é a fonte da minha magia!...”.
Profundamente
interessado, Rogério perguntou: “Se a sua mãe faleceu, como ela poderá lhe
revelar a fonte de sua magia?!... Você tem o dom de conversar com os
mortos?!... Conte-me tudo sobre você. Confie em mim.”.
Nesse momento, Leonel
se lembrou das palavras de sua mãe: “Leonel, fique atento!... Quem muito o
rodeia, amigo não é!... Não passa de pássaro agourento!...”.
Fingindo estar ainda
mais bêbado do que estava, Leonel afastou o prato e debruçou sobre a mesa. Imaginando
que ele estivesse dormindo, Rogério levantou e foi até o seu quarto para ver se
encontrava algum indício sobre a origem de seus poderes mágicos.
Minutos depois, Leonel
levantou e seguiu Rogério. Ao entrar no quarto, ele se surpreendeu ao ver que o
falso amigo segurava a caixinha que sua mãe havia lhe entregado antes de
falecer. Leonel não teve tempo de impedir que Rogério a abrisse. Leonel sentiu
certo alívio e, ao mesmo tempo, decepcionou-se terrivelmente quando nada aconteceu!...
Absolutamente nada!... A misteriosa caixa, que ele guardara durante anos, estava
vazia!...
Vazio estava também o
coração de Leonel. Ele guardara a esperança de que a caixa lhe revelasse a
fonte de sua magia... Ele sempre acreditou que ela estivesse fora dele... Não!...
O seu coração poderia estar leve, mas certamente não estava vazio, porque era o
seu coração quem produzia toda a beleza que havia nos números que ele apresentava.
Leonel encheu-se de
coragem antes de dizer a Rogério: “Eu não sou um mago. Eu sou um mágico. Se há
magia na minha Arte, ela certamente aflora do meu interior. Eu hei de me tornar
ainda melhor do que sou. E você?!... Será que pode dizer o mesmo?!... Você que
só tomaria o meu lugar se conseguisse me destruir?!... Saia daqui, pássaro
agourento!... A mudança no meu destino começa com a quebra das correntes que
impediam o meu voo. Minhas asas estão abertas, e eu hei de voar até alcançar a
maestria.”.
Rogério, por mais que
vasculhasse o cérebro, não encontrou nada para dizer e saiu envergonhado de sua
atitude desleal e mesquinha. Leonel progrediu, mas Rogério tornou-se um mágico
ainda pior do que era.
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