sábado, 28 de maio de 2016

O MÁGICO LEONEL E A CAIXA DE MADEIRA


Leonel, o mágico mais famoso do mundo, escondia um segredo, e seu rival Rogério estava disposto a descobrir qual era. Enquanto ensaiava seus números de mágica, Rogério repetia ironicamente: “Passarinhos que saem da cartola do grande mágico Leonel, atendam ao meu chamado: venham me revelar o segredo daquele impostor. Mágico simplesmente, ele não pode ser!... Ele deve ser algum mago banido das trevas!... Assim que eu descobrir o segredo daquele farsante, o mágico mais famoso do mundo serei eu: Rogério, o magnífico!...”.

Sem suspeitar das intenções de Rogério, Leonel o tratava como amigo e o recebia em sua casa. A única preocupação de Leonel era conservar o seu tesouro bem distante da visão atenta e perspicaz do curioso amigo. O tesouro de Leonel era uma caixinha de madeira que sua mãe lhe entregara antes de falecer. Sempre que ele se lembrava da caixinha, ele parecia ouvir sua mãe repetindo as palavras: “Leonel, fique atento!... Quem muito o rodeia, amigo não é!... Não passa de pássaro agourento!... Guarde esta caixa e só a abra no dia em que desejar uma mudança em seu destino.”.

Mudança!... Quantos mágicos não dariam tudo para estar em seu lugar?!... Uma posição de destaque que, para ele, nada significava!...  O que o seu coração desejava, a sua mente não conseguia compreender... Era como se coração e mente não falassem o mesmo idioma. Ele desejava sim a mudança, mas para algo que, por mais que ele se esforçasse, não conseguiria explicar.

Dias e meses se passaram, e a obstinação de Rogério persistia. Certo dia, ele apostou tudo em uma única jogada quando mentiu a Leonel: “O que vou lhe dizer é muito grave e deverá permanecer em segredo: Não sou um mágico. Sou um bruxo. Eu sei que você também é um bruxo... Juntos, seremos invencíveis... Mostre-me de onde vem o seu poder, e eu lhe mostrarei a fonte da minha magia.”.

Poder e magia!... Leonel sorriu enquanto colocava mais vinho na taça de Rogério. Imaginou que o amigo estivesse tão bêbado quanto ele, e as últimas palavras de Rogério começaram a reverberar em sua imaginação: “ ... a fonte da minha magia, da minha magia, da minha magia...”. Embriagado, Leonel murmurou: “Mãe, eu desejo uma mudança na minha vida!... Mostre-me qual é a fonte da minha magia!...”.

Profundamente interessado, Rogério perguntou: “Se a sua mãe faleceu, como ela poderá lhe revelar a fonte de sua magia?!... Você tem o dom de conversar com os mortos?!... Conte-me tudo sobre você. Confie em mim.”.

Nesse momento, Leonel se lembrou das palavras de sua mãe: “Leonel, fique atento!... Quem muito o rodeia, amigo não é!... Não passa de pássaro agourento!...”.

Fingindo estar ainda mais bêbado do que estava, Leonel afastou o prato e debruçou sobre a mesa. Imaginando que ele estivesse dormindo, Rogério levantou e foi até o seu quarto para ver se encontrava algum indício sobre a origem de seus poderes mágicos.

Minutos depois, Leonel levantou e seguiu Rogério. Ao entrar no quarto, ele se surpreendeu ao ver que o falso amigo segurava a caixinha que sua mãe havia lhe entregado antes de falecer. Leonel não teve tempo de impedir que Rogério a abrisse. Leonel sentiu certo alívio e, ao mesmo tempo, decepcionou-se terrivelmente quando nada aconteceu!... Absolutamente nada!... A misteriosa caixa, que ele guardara durante anos, estava vazia!...

Vazio estava também o coração de Leonel. Ele guardara a esperança de que a caixa lhe revelasse a fonte de sua magia... Ele sempre acreditou que ela estivesse fora dele... Não!... O seu coração poderia estar leve, mas certamente não estava vazio, porque era o seu coração quem produzia toda a beleza que havia nos números que ele apresentava.

Leonel encheu-se de coragem antes de dizer a Rogério: “Eu não sou um mago. Eu sou um mágico. Se há magia na minha Arte, ela certamente aflora do meu interior. Eu hei de me tornar ainda melhor do que sou. E você?!... Será que pode dizer o mesmo?!... Você que só tomaria o meu lugar se conseguisse me destruir?!... Saia daqui, pássaro agourento!... A mudança no meu destino começa com a quebra das correntes que impediam o meu voo. Minhas asas estão abertas, e eu hei de voar até alcançar a maestria.”.

Rogério, por mais que vasculhasse o cérebro, não encontrou nada para dizer e saiu envergonhado de sua atitude desleal e mesquinha. Leonel progrediu, mas Rogério tornou-se um mágico ainda pior do que era.




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